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Mostrando postagens de 2014

POESIA VIVA DO RECIFE : "ESFOLHANDO O AMADO CORPO" (fragmento), de Luzilá Gonçalves

... Tudo cabe aqui :  uma menina magrinha retoma o caminho do colégio  pelas ruas do Espinheiro e a adolescência se refaz  no Parque 13 de Maio, onde a gente festeja a vida   depois das aulas. Aqui reencontro amigos,  naquela praça ouvi meu primeiro "eu te amo", naquele   cais chorei o amor desesperadamente perdido,  o Capibaribe por testemunha.    Outras cidade serão mais belas - o mundo está   cheio de corpos lindos - mas nenhuma delas me daria esta sensação permanente de surpresa e descobertas,  ser único e insubstituível, cuja forma, odores, maciez,  eu reconheceria de olhos fechados Recife, corpo  amado.    (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  _______________________________________________________________ LUZILÁ GONÇALVES  -  Nasceu em Garanhuns (PE) e vive no Recife desde  os 6 anos de idade.  Poetisa, contista, romancista, ensaísta e professora  universitária (Letras/UFPE).  Publ

RECIFE, de Montez Magno

Esta claridade  que mata e não ilumina.  Este suor do tempo  e o seu calor;   a umidade presente  escorrendo no corpo  e a sua boca gritando  fugindo dos apelos   que rondam pela cidade;  e esta cicatriz quase nua   como um carimbo roto  que não tem mais validade.  (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  _________________________________________________________________ MONTEZ MAGNO  - Nasceu em Timbaúba (PE) no ano de 1944. Poeta, pintor,  contista, ensaísta. Exposições de arte realizadas no Brasil e no Exterior. Poesia  publicada : Floemas, Narkosis, Dentro da Caixa/Cinza, Pequenos Sucessos,  As Estações Visionárias, Diwan da Casa Forte.   Participou da primeira edição   da antologia Poesia Viva do Recife (CEPE, Recife, 1996).    ................................................................................................................................  Transcrito da AGENDA CULTURAL DO

POESIA VIVA DO RECIFE :"DOS MEUS SONHOS DE MENINA" (fragmento), de Germana Accioly

   Seis da manhã.  Tocam os sinos da igreja de Santa Cruz.  Repicam-se na igreja de São Gonçalo.  O convento da Glória acorda seus carrilhões.  A Matriz da Imperatriz alardeia.  Estou no coração da cidade.  Cada vez mais no seu coração, nas suas tripas, no seu miúdo.  Agradeço ao Recife por me mostrar o Coque.  Por sentir o cheiro azedo dos seus canais.  Por me agraciar com a paisagem das palafitas a partir da Ponte Velha,  Contraste do Mangue provedor com o cais excludente.  Agradeço porque assim amo mais.  Sou grata pela paisagem do porto no Marco Zero.  Pelas colinas da Marim que revelam minha cidade natal de cima.  O colorido do carnaval que entorpece.  O clarim que hipnotiza.  O frevo que escraviza a alma folia...      (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  _________________________________________________________________________________ GERMANA ACCIOLY - Recifense. Estudou música e jornalis

SAÍ A CAMINHAR PELAS "CALLES", de Héctor Pellizzi

que aqui se chamam ruas  e vi um mendigo velho  que lavava os cabelos  num charco de água suja.   a noite calorosa   suspensa nos meus ombros  esmagou os meus ossos,  e esse charco sobre o cimento me lembrou o companheiro  que lutou contra isso  e agora está morto.   saí a caminhar pelas "calles"  que se chamam ruas  e voltei comovido   com o coração oprimido  e os bolsos sem luas.     (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  ______________________________________________________________ HÉCTOR PELLIZZI - Nasceu em Junín, região metropolitana de Buenos Aires, Argentina. Poeta, contista, dramaturgo, jornalista, editor. Radicado no Recife, em 1980, militou no Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco - MEIPE. Publicou, entre outros, estes livros de poesia :  Por Camiños de Pajáros, Pequenos Poemas Bilingues,  Con las ventanas abiertas, América Indignada. Incluído na antologia Marginal Recife - Colet

POESIA VIVA DO RECIFE : "CASA DE DETENÇÃO", de Severino Filgueira

Na janela  de um antigo prédio   sonha-se o túmulo   e a rama   solitária da estação.   Parece impossível  que se medite   no verso que passou  enquanto pregam  cartazes nos murais   e um cão  muda de lugar   e numa terra distante   o povo livre   recebe o ar  do dia. As pedras dormem  e as ondas seguem.       (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE, organizada por Juareiz Correya) ______________________________________________ SEVERINO FILGUEIRA - Nasceu em Aracaju (SE).  Poeta, novelista, dramaturgo e romancista. Trabalhos  publicados em suplementos literários do Diário de   Pernambuco e Jornal do Commercio e em antologias  pernambucanas. Poesia publicada : Aposentos do  sonho (in "Quíntuplo"), Iniciação à Fábula ,  Qualquerum. Participou da primeira edição da  antologia Poesia Viva do Recife ( Companhia Editora  de Pernambuco -CEPE, 1996). ...................................................................................... Aces

POETAS DOS PALMARES : "CARTA A MINHA CIDADE", de Luiz Alberto Machado

ao meu rincão  que soletrei sílabas de todos os tons  deixo o meu desejo provinciano   foi nas tuas praças que descobri a poesia   foi na tua noite que desvendei mistérios   foi no teu dia que morri muitas vezes  foi no teu canavial  que deixei meu sangue   foi no teu rio que comunguei com a vida   dos bairros nobres ao baixo meretrício   dos bueiros da usina aos estudos da faculdade  da safra da cana à entressafra da razão  da incompetência da câmara ao sucesso dos loucos  dos desvarios comerciais aos crimes impunes   das damas hipócritas às jovens sedutoras   das reuniões inúteis às salas de dança  dos cultores do passado aos artistas malucos   me completei  me dizimei  e me consenti  com certeza te deixo o meu velório   e a paz de quem sorri.     (Da antologia  POETAS DOS PALMARES,  organizada por Juareiz Correya, em edição eletrônica a ser lançada em dezembro/2014 pela Panamerica Nordestal Editora, do Recife) ______________________________________

POESIA VIVA DO RECIFE : "PELAS RUAS DO RECIFE", de Clóvis Campelo

Pelas ruas do Recife surge a novidade,  afirmam-se credos seculares,  renascem mitos modernos.   Pelas ruas do Recife dorme-se o sono dos justos,  cessam as palavras,   falam por si sós os fatos.   Pelas ruas do Recife caminha a humanidade,  correm as notícias,  dispara a revolução.     Pelas ruas do Recife travam-se todas as lutas,   cruzam-se todos os olhares,  reverenciam-se todos os deuses.    Pelas ruas do Recife transitam todos os anjos,  ocorrem todas as mortes,   condensam-se todas as imagens.      (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE, organizada por Juareiz Correya) ________________________________________________ CLÓVIS CAMPELO  - Recifense. Formado em Letras (UFPE), com especialização em crítica literária.  Poemas publicados em jornais recifenses e sites literários e culturais brasileiros na Internet. Dedica-se  profissionalmente à fotografia.  Participou da Antologia Poética 2007, do grupo virtual Poetas Independentes.  ................

POESIA VIVA DO RECIFE : "AQUÁTICA", de Marcílio Medeiros

Arrastado de outros portos   aqui aprendi a ser água.  Recife é a cidade que transborda   não se quedou soterrada.   Reparte-se em rios  transporta sua multiplicidade.  Transpira inquieta em canais demarcados.  Exige pontes a aproximá-la.  Descobre outras artérias  a comportá-la.  Invade aberturas secretas.  Há que se diluir para abraçar   o seu corpo de peixes,  navios, coragem  Naufragar para renascer   noutra vida  de afogados.  Sua lei  seu destino  é derramar-se.  (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  ______________________________________________________ MARCÍLIO MEDEIROS -  Recifense. Na década de 1980  editou os jornais alternativos Vaga-Lume e Prólogo.  Conquistou prêmios de poesia em Pernambuco. Poesia publicada :  Anjo Clandestino , A Pulsação Repleta. Publica, na Internet,   os blogs literários "Liras, Musas & Aedos"  (http://marciliomedeiros.blogs

POESIA VIVA DO RECIFE : "BENÇA, MÃE", de Márcia Maracajá

"BENÇA, MÃE"                                                                   Márcia Maracajá  De passagem  Saudade certeira   Estar aqui  É saber de mim  Volto a me esquentar  Em seu ventre   Em suas águas   Rios e mar   Mãe que me embalou   Em rimas  Em cantos   Em risos e prantos   Mãe Recife,  Sua benção,  Vou-me embora  Levo tudo o que me ensinou... (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  ________________________________________________________________ MÁRCIA MARACAJÁ  -  Natural do Recife, onde estudou e iniciou suas atividades como professora de Língua Portuguesa, poetisa, escritora,  blogueira, performer literária.  Vive hoje em Garanhuns (PE). Tem poemas  selecionados em concursos literários do IMC - Instituto Maximiano Campos  e da Prefeitura do Recife (Bibliotecas de Afogados e de Casa Amarela).  Poemas divulgados em revistas e jornais alternativos, blo

POESIA VIVA DO RECIFE : "ORAÇÃO PARA BOA VIAGEM", de Luiz Manuel Paes Siqueira

Senhor, a vida se resume   à Zona Sul  que lá, Senhor, a vida  ao mar azul  se une.    E ao shopping center   também, Senhor no mostra mostra  no tem-não-tem.   Ao crediário, Senhor   esse divino   mediador.  E à doce vida:  um pouco fútil  mas colorida.    (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  _________________________________________________________________ LUIZ MANUEL PAES SIQUEIRA - Nasceu em Garanhuns(PE).  Geólogo, poeta e romancista. Poesia publicada : "A Última Valsa",  "A Cidade da Luz Azul", "Jamais Houve Trevas".   Participou da primeira  edição da antologia "Poesia Viva do Recife" (CEPE, Recife, 1996) ....................................................................................  Acesse AGENDA CULTURAL DO RECIFE  (http://www.recife.pe.gov.br/agendacultural) 

POESIA VIVA DO RECIFE : "DESCOBRIMENTO DO RECIFE" (fragmento), de Maria de Lourdes Hortas

. .....................................................  Debruçada na cisterna das chuvas de ontem   convoquei sombras e lume   heróis e nave   saudade e ternura   catedrais, hinos   atavismos, guitarras  heranças e destinos.  Todavia, no coagulado silêncio das águas pantanosas   me vi - forasteira por ruas alheias.    Chego, enfim, ao presente   reverso desta paisagem  lá onde estou  outra margem deste mar   águas se desdobrando em rios e mangues   e pedras se fazendo arrecifes.  (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE, organizada por Juareiz Correya) _________________________________________________________ MARIA DE LOURDES HORTAS - Nasceu em São Vicente da Beira  (Portugal). Vive no Recife desde os 9 anos de idade. Poetisa,  ensaísta, contista e romancista. Exerceu, por alguns anos, o cargo  de diretora cultural do Gabinete Português de Leitura de Pernambuco. Poesia publicada : Aromas da Infância, Fio de Lã, Giestas, Outro  Corpo, Recado de Eva, Todavi

POESIA VIVA DO RECIFE : "RECIFE / EU / RECIFE", de Sílvio Hansen

Recife traçado  Com as linhas do meu corpo ...  Com o líquido do meu corpo ...  Com o suor do meu rosto...  Recife sem porta   Recife sem porto  Com os seus rios vivos  Às vezes mortos.  Com seus rumos tortos...  Somos unidos como xifópagos  Jamais um viverá sem o outro.   Recife de rumo certo...  E eu de rumo torto...       (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE, organizada por Juareiz Correya) _____________________________________________________ SÍLVIO HANSEN - Nasceu em Paulista (PE). Poeta e artista  plástico premiado em salões de Pernambuco e do Exterior.  Coordenou, ao lado de Rogério Generoso, exposições do  movimento cultural Invenção de Poesia, realizadas mensalmente na Biblioteca Popular de Casa Amarela / Prefeitura do  Recife. Publicação em revistas alternativas, fanzines e livros  de arte. Poesia publicada : Poesia Visual (2007). Incluído na   antologia Marginal Recife - Coletânea Poética 5. ............................................

SÃO PAULO, 460 ANOS : "REMATE DE MALES", de Dalila Teles Veras

"eu sou trezentos, sou trezentos e cinquenta..."                                              (Mário de Andrade)  há uma gota de sangue em cada esquina   desta paulicéia desvairada   um losango cáqui apodrecido  uma lira incendiada   no carro da miséria paulistana   há cem jabutis pelas calçadas   deste chão de de ausências e calcário cidade. mais que pisada. órfã.  sem mário.  (Da antologia inédita POESIA VIVA DE SÃO PAULO,  organizada por Dalila Teles Veras e Juareiz Correya,  a ser publicada pela Panamerica Nordestal Editora  - http://www.panamerica.net.br)

SÃO PAULO, 460 ANOS : "PAULIS", de Ieda Estergilda de Abreu

Tenho por essa cidade um carinho de fera   que afaga muros ásperos, procura árvores  ventos livres.  Humana e caótica, São Paulo ruge   de urgência, acaricia e agoniza.  Digo que vou deixá-la, ela não me deixa   tem garras, amarras  jeito de apertar quando tudo parece  solto.  Digo que ela me sufoca   e pasmo por não saber seus limites.  Nela gasto os sapatos, os ossos  ela não me escapa mas não é minha   essa cidade temporal.       (Da antologia inédita POESIA VIVA DE SÃO PAULO,   organizada por Dalila Teles Veras e Juareiz Correya,  a ser publicada pela Panamerica Nordestal Editora   - http://www.panamerica.net.br) 

SÃO PAULO, 460 ANOS : "DO LARGO DO AROUCHE", de Álvaro Alves de Faria

............................................................ Aqui na floricultura  do Largo do Arouche,  eu espero o fim do mundo  olhando para a Academia Paulista de Letras.  Os automóveis estacionados na madrugada   me fazem lembrar sepulturas antigas  que me habitam.  Aqui na floricultura do Largo do Arouche  escolho as últimas flores  para a última mulher.  Tenho em mim as palavras desnecessárias   para um discurso que nunca farei.  Aqui na floricultura do Largo do Arouche   espero o fim do mundo  como quem espera o bonde  da avenida São João  que não existe mais.  (Da antologia inédita POESIA VIVA DE SÃO PAULO,  organizada por Dalila Teles Veras e Juareiz Correya,  a ser publicada pela Panamerica Nordestal Editora,  - http://www.panamerica.net.br) 

SÃO PAULO, 460 ANOS : "SP", de Izacyl Guimarães Ferreira

Desse colégio nascido num pátio  a inclinar-se na vertente ao lado  e sobre um rio fluindo ao contrário,  espalhando-se lenta por um arco  entre colinas e a serra que cai,  veio vindo ocupando seu lugar  sem procurá-lo, meio por acaso,  e das garoas, névoas, como um raio  risca o espaço e atroa, faz-se caos   e explode nessa multiplicidade.  (Da antologia inédita POESIA VIVA DE SÃO PAULO,  organizada por  Dalila Teles Veras e Juareiz Correya, a ser publicada pela Panamerica Nordestal Editora   - http://www.panamerica.net.br) 

POESIA VIVA DO RECIFE : "Paralelo Oito", de Frederico Spencer

Ao Recife, uma cidade  vestida de papel sobre as águas. No teu dorso de cidade - a giz  traço no meu caderno tuas rotas   até onde o medo me cabe :  inventário de sombras - pátio aberto  sobre o rio mocambos parasitários   à flor de tua pele   a fé de um deus seu povo viça :  pacífico e atlântico azul  o leste desatado - o sol e o mar   trago do tempo : areia e sal   de teus mapas   a solidão de minhas ilhas.   (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE, organizada por Juareiz Correya) ____________________________________________________ FREDERICO SPENCER - Recifense. Formado em sociologia  e psicopedagogia. Poemas e textos críticos publicados em  jornais,  revistas e blogs.  Prêmio de poesia da Academia   Pernambucana  de Letras em 1985. É editor, com Natanael Lima  Jr., do blog DOMINGO COM POESIA  (http://domingocompoesia.com).  Poesia publicada : PORTAL DO TEMPO, QUADRANTES  URBANOS, ABRIL SITIADO (também em edição eletrônica).  ........................