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POESIA VIVA DE SÃO PAULO : "São Paulo - Ontem / Hoje", de Caio Porfírio Carneiro






"São Paulo dos Viadutos..." 
(Fotografia de Cecília Bastos / 
USP Imagens) 



São Paulo dos meus amores... 
- De onde o chamado lírico ? 
Pauliceia desvairada... 
- De onde a perplexidade ? 
São Paulo dos viadutos... 
De onde a quase canção ? 
Debruçado ao parapeito 
O formigueiro no chão 
Olhos na perfilada flores 
De prédios parados silentes 
Eu me perco em devaneios 
O pombo pinça farelos 
Na palma da minha mão
Eu me vejo no passado 
Longe os dias perdidos  
Na São Paulo pulsante  
Enregelada de frio 
Agasalhados de garoa 
E esta São Paulo ante meus olhos  
E o pombo que não vem 
E os farelos dispersos 
E os prédios enegrecidos 
No sarcófago da fuligem 
Do passado e do presente 
Da São Paulo tiritante  
A São Paulo sufocante  
Bailam-me no tempo e no espaço 
Interrogações tão presentes : 


São Paulo dos meus amores 
- De onde o chamado lírico ? 
Paulicéia desvairada... 
- De onde a perplexidade ? 
São Paulo dos viadutos... 
De onde a quase canção ? 


É nunca esperar respostas 
Desnecessárias que são 
Interrogações tão eternas 
Na alma dos prédios neutros 
Cercados de alucinantes 
Que me acompanham pelas ruas 
Do passado ao presente 
Da mocidade nas frias noites 
Aos meus passos já cansados 
Pulsam-me sempre na lembrança 
Aguilhoam-me à engrenagem 
Eternizam esta cidade 
Comovem o meu coração. 



(Do ebook inédito  
POESIA VIVA DE SÃO PAULO, 
antologia organizada 
por Dalila Teles Veras e Juareiz Correya) 


_______________________________________________________________
CAIO PORFÍRIO (DE CASTRO) CARNEIRO  nasceu em Fortaleza (CE), 
no ano de 1928.  Bacharel em Geografia e História pela Faculdade 
de Filosofia de Fortaleza. Mudou-se para a capital paulista em 1955.  
Secretário administrativo da  União Brasileira de Escritores 
(UBE - seção de São Paulo), testemunhou os mais importantes 
eventos dessa entidade respeitada nacionalmente como um dos baluartes  
da liberdade intelectual da nossa cultura.  Autor de dezenas de livros 
- contos, romances, romance-reportagem, novelas, ensaios, literatura 
infantojuvenil. Colaborador de importantes suplementos literários do país. 
Textos traduzidos para o alemão, árabe, espanhol, francês e italiano.  Alguns 
livros publicados: Trapiá (1961), O sal da terra (1966), Os meninos 
e o Agreste (1968), O Casarão (1975),  Chuva - Os dez cavaleiros (1977). 
Publicou um único livro de poesia: Rastro Impreciso (1988).  
Faleceu em São Paulo (julho de 2017).   

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