Pular para o conteúdo principal

UM POEMA SOBRE A CIDADE, de Juareiz Correya






Um poema sobre a cidade 
é arquitetônico estatístico
geográfico histórico urbanístico ?
Um poema sobre a cidade 
tem gente trânsito tragédias 
ruas avenidas pontes viadutos
atropelamentos histórias nascimentos 
naturezas vivas e mortas ?

Um poema sobre a cidade 
atravessa casas edifícios condomínios 
desorienta números e Institutos de Geografias e Estatísticas 
reinventa a  humanidade antiga e nova que nela habita 
e rejuvenesce o passado e morre o futuro e perpetua o presente 

Um poema sobre a cidade 
é o tempo e não é o tempo
de criação e de danação

Um poema sobre a cidade 
manda para o espaço a cidade 
e é terra batida asfalto árvores verdes e negras rio lama
atmosfera cósmica 
ou apenas uma praça nua rua uma viela um beco

Um poema sobre a cidade 
tem mários oswalds bandeiras ascensos drummonds hermilos cabrais
celinas vinicius thiagos gullares amados pessoas florbelas  hortas 
adélias notaros jacis bruskys ledas vanjas márcias marias
mariamas terras guaranis pedros floras e um poeta que escreve 
um poema sobre a cidade 

Um poema sobre a cidade 
é claro e transitável como as Matemáticas e Cibernéticas Ciências 
morre de amores e renasce amando 
ébrio de versos e de fantasias livrescas 
memorável como os endereços dos catálogos de bairros 
impublicável como os jornais e as revistas de plantão
está acessível em todas as telas de computadores 
e chegará às mentes e aos corações por qualquer via da Internet 

Um poema sobre a cidade 
é só um poeta e a sua humanidade 


Recife, julho 2008.

(Do livro inédito POEMAS DO NOVO SÉCULO)

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

POESIA VIVA DE NATAL : "UMA CIDADE VESTIDA DE SOL", de Racine Santos

Sendo a cidade Natal uma filha do Nordeste pega o sol toda manhã e com ele então se veste. Natal se veste de sol roupa de rica fazenda não se rasga nem se suja e tampouco se remenda. O sol cai sobre Natal como roupa bem talhada (de linho ou de algodão) que a traz iluminada. Como uma roupa de festa, um vestido de noivado, ou como um terno branco todo engomado. Como uma roupa de gala eu bem diria, mesmo que seja usada no dia a dia. Roupa de puro sol que larga se faz na praia onde parece um lençol : branco lençol de cambraia. Assim vestida de sol a cidade de Natal lembra mulher em repouso terna e sensual. De dezembro a fevereiro quando mais forte o calor a cidade então se veste com mais apuro e rigor. Nesse tempo de verão explode a cidade em luz : por todo canto se vê os estilhaços cajus. Mesmo vestida de sol (como pedra no sertão) ainda mais se agasalha quando se faz o verão. No verão ela se veste de sol com tanta alegria que se mai

POESIA VIVA DO RECIFE : "ESFOLHANDO O AMADO CORPO" (fragmento), de Luzilá Gonçalves

... Tudo cabe aqui :  uma menina magrinha retoma o caminho do colégio  pelas ruas do Espinheiro e a adolescência se refaz  no Parque 13 de Maio, onde a gente festeja a vida   depois das aulas. Aqui reencontro amigos,  naquela praça ouvi meu primeiro "eu te amo", naquele   cais chorei o amor desesperadamente perdido,  o Capibaribe por testemunha.    Outras cidade serão mais belas - o mundo está   cheio de corpos lindos - mas nenhuma delas me daria esta sensação permanente de surpresa e descobertas,  ser único e insubstituível, cuja forma, odores, maciez,  eu reconheceria de olhos fechados Recife, corpo  amado.    (Da antologia POESIA VIVA DO RECIFE,  organizada por Juareiz Correya)  _______________________________________________________________ LUZILÁ GONÇALVES  -  Nasceu em Garanhuns (PE) e vive no Recife desde  os 6 anos de idade.  Poetisa, contista, romancista, ensaísta e professora  universitária (Letras/UFPE).  Publ

CELINA DE HOLANDA : "POVO DE DEUS"

CELINA DE HOLANDA   (Cabo de Santo Agostinho, PE)  Centenário de Nascimento em 2015  Ouço o povo numero de Deus.  Vem dos mangues, cárceres   e morros.  O Recife pulsa  pulso forte de aço, onde vivo.  À noite, fecho a porta à beira-rio  lama e carne indissolúveis.  Ouço as portas.  É o clamor do povo de Deus, abrindo-as.    ___________________________________________________ Poema selecionado do CD "CELINA DE HOLANDA  E AS MULHERES DA TERRA (voz de Vernaide Wanderley),  lançado, neste mês de agosto / 2016, no Cabo de Santo  Agostinho, PE, em homenagem ao Centenário de Nascimento   da Poetisa Celina de Holanda (1915 - 2015).  Co-produção da Panamerica Nordestal Editora e Produções   Culturais e Secretaria de Cultura / Secretaria de Educação /  Prefeitura Municipal do Cabo de Santo Agostinho.